sábado, 10 de outubro de 2009

Fé e muito trabalho

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Voluntariado evangélico cresce e crentes empreendedores se tornam elemento fundamental do chamado Terceiro Setor

Não dá para olhar a Igreja Evangélica brasileira e ignorar a ação de um enorme contingente de pessoas que dedica tempo, dinheiro e muito trabalho para mudar a realidade de comunidades inteiras. Em vez de esperar pelo céu, eles colocam o pé na estrada para mostrar que o Reino de Deus já começou. Os exemplos de evangélicos fazendo trabalho voluntário são muitos, e não apenas no âmbito das igrejas – eles atuam em ações de saúde, segurança pública, moradia, educação. Os voluntários estão em todos os setores, fazendo até o que seria papel dos governos. CRISTIANISMO HOJE colheu histórias de cristãos com diferentes perspectivas sobre o trabalho social, que têm em comum a resposta ao chamado do Evangelho. “Os personagens bíblicos tinham profissão”, lembra o dentista Tércio Obara, de 39 anos. “Nós também temos; todo mundo sabe fazer alguma coisa. E devemos usar isso para viver o amor prático que Jesus ensinou”, completa.
Há 13 anos ele presta gratuitamente seus serviços profissionais em expedições que, começando pela periferia de São Paulo, cidade onde mora, já alcançaram favelas e grotões espalhados pelo Brasil e chegaram até a outros países. Casado com Lucimara, que também é dentista, e pai de Giovana e Rafaela, Tércio criou o Sorrindo com Cristo, um ministério que, apesar de já ter uma longa estrada, não virou organização não-governamental (ONG) nem ganhou certificado algum de entidade sem fins lucrativos. A cada três meses, Tércio, Lucimara e os voluntários que se apresentam às incursões por lugares pobres e desassistidos pelo poder público, fazem o Sorrindo com Cristo continuar existindo. São fins de semana dedicados a saúde bucal, especialmente de crianças. Além de serviços odontológicos, o time da solidariedade costuma contar com outros profissionais de saúde e com gente de várias outras áreas. Basta se apresentar, preenchendo uma detalhada ficha de inscrição e se integrar à equipe.

O planejamento é meticuloso. “Só vamos onde somos convidados, e depois de pensar muito em cada detalhe. As carências são muitas e oramos para decidir os destinos”, explica o dentista, que paga do próprio bolso os custos com os deslocamentos e com o material utilizado – até mesmo insumos caros para cirurgias e próteses. “Para quem é atendido, o custo é zero”, explica. “Deus sempre me abençoou. Nada nos falta, e não me arrependo de ter usado meus recursos assim.” Tércio, que é membro da Igreja Metodista Livre de Diadema (SP), não nega o viés evangelístico das ações. Há sempre um pastor ou um missionário prestando assistência espiritual, e equipes de jovens da igreja entretêm crianças e ensinam a Bíblia para as pessoas atendidas.

O Sorrindo com Cristo já visitou favelas cariocas, lugarejos do sertão nordestino e comunidades amazônicas. Até ao Nepal, pequeno país de milenar tradição budista da Ásia, o ministério já foi. Lá, foram feitos mais de cem procedimentos, entre cirurgias, próteses, limpezas e restaurações. “Deixamos um consultório dentário montado lá”, conta. Tércio Obara tem compartilhado suas experiências em cursos realizados em várias igrejas do Brasil. “Não podemos esperar pela ação do governo. A Igreja tem gente privilegiada, gente profissional e com habilidade para atuar de todas as formas. Essa visão é bíblica e histórica”, conclui, lembrando o exemplo de John Wesley, que há 250 anos, além de evangelizar, pregava justiça social e levava atendimento médico aos pobres da Grã-Bretanha.
Rede social – No fim de maio, aconteceu em Belo Horizonte (MG) o II Congresso Evangélico Nacional dos Profissionais de Saúde, cujo lema foi “Saúde integral para todos – Direito e missão”. Entidades como os Médicos de Cristo e a missão Asas de Socorro apoiaram o evento. Ao mesmo tempo, a Rede Evangélica Nacional de Ação Social (Renas) lançou a iniciativa de cadastrar ongs pela internet, para dar forma ao Mapa da Ação Social Evangélica, numa tentativa de articular esforços dos crentes em todo país e possibilitar mobilização e troca de experiências, informações, recursos e tecnologia social. Instituições internacionais de peso, como Visão Mundial, Compassion e Exército de Salvação, estão associadas ao movimento.

A idéia se aproxima do Mapa do Terceiro Setor, iniciativa da Fundação Getúlio Vargas que já cadastrou 5,5 mil ongs pelo Brasil e facilita a vida de pessoas ou empresas que queiram doar tempo, trabalho ou dinheiro aos necessitados.

Iniciativas desta natureza se multiplicam na mesma proporção em que se agiganta a quantidade de ongs com as mais diversas finalidades e de gente disposta a fazer trabalho voluntário. A pesquisa As fundações privadas e associações sem fins lucrativos no Brasil, realizada pelo Insituto Brasileiro de Geografia e Estatítica, o IBGE, junto com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, o Grupo de Instituições Fundações e Empresas e a Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais, mostrou que havia em 2002 mais de 276 mil entidades do gênero no país. E este número só cresceu. Em 2006, o Programa de Voluntários das Nações Unidas, em parceria com The Johns Hopkins Center for Civil Society Studies, apontou 326 mil organizações dessa natureza no Brasil.

Casa cheia – Dimensionar o voluntariado cristão no Brasil é, porém, uma tarefa praticamente impossível. Cada igreja costuma ter sua própria política de ação social – além disso, as missões e ongs evangélicas também se apresentam como alternativas para o trabalho voluntário. Sabe-se que o serviço prestado pelos crentes representa grande parte do chamado terceiro setor. Para Márcio de Carvalho, o Coyote, de 31 anos, tudo foi uma simples questão de fé. Ligado à cena underground em Londrina (PR), onde curtia o som blackmetal, Coyote se converteu ao Evangelho em 1999, época em que trabalhava como office-boy. E, de pronto, encheu a pequena casa onde morava de moradores de rua, entre viciados em drogas, prostitutas e travestis. Ele foi no rastro do pastor Fábio Ramos de Carvalho (1965-2007), da igreja Caverna de Adulão, de Belo Horizonte, que na década de 1990 havia feito missões urbanas em Londrina e costumava deixar as portas abertas para quem quisesse entrar.

“De cara, coloquei oito moradores de rua na minha casa. Foi meio na loucura; eu não sabia o que fazer nem tinha recursos suficientes para ajudar aquela gente, mas estava cumprindo o mandamento de Jesus de amar ao próximo”, conta Coyote, que hoje é pastor e tem doutorado em aconselhamento. A iniciativa virou uma igreja, a Comunidade Refúgio, que hoje tem cerca de 60 membros, e uma organização que atende a pessoas com aquele mesmo perfil: os mais rejeitados pela sociedade. O dirigente coloca o foco nos dependentes químicos, que precisam de suporte contínuo. “Nem todos se recuperam, mas as portas estão sempre abertas”, garante Coyote.

O cearense Manoel Andrade Neto, 49 anos, doutor em química, estabeleceu uma rotina que segue à risca. Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), ele tem dedicado seus fins de semana, durante 14 anos, ao trabalho com pessoas fora da idade escolar. Gente pobre, sem muita chance de prosseguir nos estudos e muito menos de alcançar um lugar entre os aprovados no vestibular para uma universidade pública. Manoel, casado e com duas filhas, organizou um grupo de estudos em sua cidade natal, Pentecoste, a 103 quilômetros da capital Fortaleza, onde mora.

À sombra de um frondoso juazeiro, junto a uma casa de fazer farinha, o grupo de sete estudantes de Pentecoste ouviu as aulas de Manoel e pôde fazer proezas. Eles conseguiram passar para a UFC, e como a idéia do professor era a de reproduzir a experiência, os alunos que obtiveram sucesso auxiliaram outros. Já são 150 os universitários de Pentecoste. Vários grupos de estudos se formaram. E o trabalho cansativo e desgastante de Manoel, que envolveu toda a família em sua empreitada, tem gerado transformação social não apenas na pequena cidade de 33 mil habitantes. Os frutos já são incontáveis, e os alunos passaram a organizar mais grupos de estudos e associações para reivindicar melhoria da vida dos moradores. Sob a bandeira do Instituto Coração de Estudante, floresceu o Programa de Educação em Células Cooperativas (Prece) e várias iniciativas populares, com foco na educação, têm acontecido. Há 13 Escolas Populares Cooperativas. Trabalho voluntário e descentralizado, nas mais diversas áreas profissionais.

“Capital imenso” – Tudo que faço tem um significado político e ao mesmo tempo espiritual”, afirma o professor, que é membro da Igreja Presbiteriana Independente e não tem nenhuma filiação partidária. Para ele, não basta ser voluntário, é preciso refletir mais profundamente sobre o que se está fazendo. “Não sou contra uma pessoa dar sopa ao faminto, mas faz sentido alguém repetir isso por 20 anos?”, questiona, sem deixar de reconhecer a importância do trabalho assistencial. “Mas isso é muito complexo. No início, eu tinha uma certa ingenuidade, mas percebo que, se não tomar cuidado, a igreja acaba contribuindo indiretamente para perpetuar o atual estado de coisas”, avalia. Ele mostra especial indignação com os políticos. “Para onde vai o dinheiro da saúde e da educação, que não chega aos necessitados? É preciso mobilizar e cobrar, buscando transformação social”, pontifica Manoel, levantando a bandeira de um voluntariado mais consciente.
No início, lembra o professor, o grupo de estudos contava também com estudos bíblicos. Mas tudo cresceu muito rápido e a igreja não conseguiu acompanhar na mesma velocidade. O viés cristão da iniciativa, no entanto, permanece e dá testemunho do que pode acontecer quando um crente põe a mão na massa. “O maior capital social do mundo está nas igrejas. Quem tem um grupo de pessoas reunidas uma vez por semana, todas juntas?”, observa. “Milhões e milhões de pessoas se reúnem e têm um grau de afetividade muito forte. Imagine se esse capital for mobilizado para transformações políticas e sociais. As igrejas precisam focalizar esse aspecto e provocar impacto”.

Valter Gonçalves Jr.

“Coloquei oito moradores de rua na minha casa. Foi meio na loucura; eu não sabia o que fazer nem tinha recursos suficientes para ajudar aquela gente, mas estava cumprindo o mandamento de Jesus de amar ao próximo”

(Márcio de Carvalho, o Coyote, pastor da Comunidade Refúgio, que evangeliza viciados e jovens de perfil underground em Londrina, no Paraná)

“Tudo que faço tem um significado político e ao mesmo tempo espiritual”

(Manoel Andrade Neto, professor voluntário e coordenador do Programa de Educação em Células Cooperativas, o Prece, em Pentecoste, no Ceará)

Caminhos da
solidariedade

Conheça algumas instituições evangélicas que atuam no Terceiro Setor, prestando serviços comunitários nas mais diversas áreas:

Sorrindo com Cristo (São Paulo)

www.sorrindocomcristo.blogspot.com

Instituto Coração de Estudante (Ceará)

www.coracaodeestudante.org.br

Renas – Rede Nacional Evangélica de Ação Social

www.renas.org.br

Congresso Evangélico Nacional
dos Profissionais de Saúde

www.cenps.com/novo_site/default.htm

Comunidade Refúgio (Londrina – PR)

www.refugio.org.br/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1

Portal da Filantropia

www.filantropia.org

Mapa do Terceiro Setor

www.mapadoterceirosetor.org.br

Compassion

www.compassion.com/default.htm

Visão Mundial

www.visaomundial.org.br

Exército de Salvação

www.salvationarmy.org/BRA/www_bra.nsf

Asas de Socorro

www.asasdesocorro.org.br

Grupo de Institutos, Fundações e Empresas

www.gife.org.br/index.php

Associações Brasileira de Organizações
Não-Governamentais

www.abong.org.br

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Jesus não é uma MARCA

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jesusnaoemarcaA evangelização na era do consumo tem muito do discurso do marketing – mas a Igreja não pode oferecer o Evangelho como bem de consumo

A marca Jesus é uma das mais conhecidas e rentáveis do mundo. O nome do Filho de Deus acompanha a humanidade há dois milênios, resistiu a toda sorte de crises – da opressão romana no início da Era Cristã ao comunismo, das trevas da Idade Média ao ateísmo filosófico do século 19 – e é a razão da fé de pelo menos 2 bilhões de pessoas. Seus ensinos e as frases que disse em seu ministério terreno – como o genial “Dai a César o que é de César” ou o inquietante “Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra” – fazem parte dos mais diversos cases de marketing.

Mas são justamente as estratégias empregadas na propagação do Evangelho que têm causado mais controvérsia. Esta é a questão que se levanta quando pesamos os métodos de evangelismo público por parte de igrejas marcadas pela cultura ocidental, saturadas pelo marketing.

Ora, qualquer secundarista sabe que marketing pode ser definido como todas as atividades que ajudam empreendedores a identificar e moldar o desejo de seu alvo, os consumidores – e, então, satisfaze-los mais do que seus competidores o fazem. Isso geralmente envolve pesquisas de mercado, análise das necessidades do cliente, e, então, decisões estratégicas sobre design de produtos, preços, promoções, propaganda e distribuição.

A Igreja enfrentou – e enfrenta – questões inevitáveis por escolher manter o evangelismo pessoal e testemunho público em uma sociedade marcada por uma cultura consumista. A primeira questão é: Será que devemos transformar em artigo de mercado a Igreja e a mensagem de Cristo? Podemos usar técnicas de marketing no cumprimento do “Ide” de Jesus?

Temos condições de mudar o meio sem afetar a mensagem? Ou será que o próprio meio do marketing mancha nossa pregação, fazendo-nos resistir até o último suspiro a toda acomodação à nossa cultura de consumo?

Parece evidente que, a menos que nos abstenhamos de toda forma de evangelismo, o marketing é inevitável. Se ele é a linguagem da nossa cultura, os cristãos devem ter fluência nele, da mesma forma que os missionários transculturais precisam dominar o idioma dos povos aonde vão atuar.

O marketing é apenas a última encarnação dos clássicos modelos evangelísticos, como a persuasão e o exemplo de vida. Por esta perspectiva, o erro estaria em fazer um marketing da Igreja de forma pobre, o que a faria parecer menos do que ela é – como uma marca indesejável – para um público de não cristãos. Deve-se ter em mente, também, que o marketing tem um problema: às vezes, ele leva as pessoas a fazer exatamente o oposto do desejado.

Conflitos com a vida cristã – Em outros termos, as pessoas que respondem ao marketing eclesiástico encaram Jesus como uma mercadoria. Este é o primeiro e grande problema, pois isso é blasfêmia: nós estamos falando sobre o Logos encarnado, e não sobre uma logo. Por outro lado (caso blasfêmia não seja o suficiente…), isso deveria nos preocupar pelo problema que traz para o discipulado. O consumismo não é apenas um fenômeno social – é espiritual. Ele vem dos hábitos e comportamentos espirituais que conflitam com as práticas particulares da vida cristã.

Existem vários conflitos desta natureza, mas quatro se destacam como mais arriscados:

1. “Você é o que você compra” versus senhorio de Cristo – Em uma sociedade consumista, a identidade das pessoas vem do elas consomem. O principal foco de uma sociedade consumista é o consumidor – o que é essencial. Marcas comerciais não fazem nada para abalar essa auto-suficiência fundamental; na verdade, elas dependem disso. A dinâmica é simples – nós pagamos pelo privilégio de algumas marcas porque gostamos do que elas fazem por nós. Em contrapartida, as marcas estão bastante satisfeitas em receber nosso dinheiro. Consumidores espirituais, portanto, haverão de se aproximar da Igreja com o mesmo narcisismo com o qual se aproximam das demais marcas, com questionamentos como: “O que estou expressando a meu respeito, caso eu compre a marca Jesus?”; ou “Como o cristianismo completará a visão que eu tenho de mim mesmo?”.

A implicação teológica disso é: eu pertenço a mim mesmo. Sou meu próprio projeto, meu próprio produto. Essa é uma terrível rejeição à glória que deve ser dada a Deus como Criador. O perigo está no fato de que a Igreja passa, com isso, a transformar rapidamente o Evangelho em mera ferramenta de preenchimento pessoal. Pregações e evangelismo que enfatizam apenas os benefícios de se tornar um crente apresentam uma mensagem não muito diferente das propagandas que falam sobre as vantagens de determinados modelos de carros, por exemplo. Essa atitude prejudica o crescimento dos discípulos rumo a uma vida centrada em Deus e no próximo. Sim, a vida cristã traz plenitude para além da imaginação; mas ela vem apenas quando buscamos a Deus mais do que a nós mesmos. Aqueles que vêm à igreja esperando satisfações de mercado e procurando apenas salvar sua vida não encontrarão nem uma coisa nem outra.

2. Descontentamento versus a suficiência de Cristo – Embora o consumismo prometa plenitude pessoal, os ciclos econômicos dependem inteiramente de um descontentamento contínuo. No fundo, o consumismo não se trata apenas de comprar um produto novo, mas sim, de adquirir esse produto para que você se sinta novo. As pessoas que trabalham com o marketing sabem disso e planejam seus produtos de tal forma que o consumidor sempre é levado a desejar o novo que está por vir, o último modelo do que já tem.

Consumidores descontentes também carregam uma armadilha espiritual semelhante. Inicialmente, nossa busca perpétua por conforto e felicidade, na verdade, aniquila-se toda chance de satisfação de nossos desejos.

O prazer de comprar um novo produto ou serviço, na verdade, durará pouco tempo. Logo vai embora – e o pior é que imediatamente depois, passamos a desejar algo novo. Em seguida – e esta é uma questão perversa –, nós não conseguimos lidar com desconforto.

Como consumidores, buscamos novos produtos quando percebemos os primeiros sinais de irritação. Como as clinicamente identificáveis dependências de compras, esse é um espantoso indicador de uma cultura decadente.

A maioria das pessoas, nos mais diversos lugares, não tem o luxo de lutar por vidas livres do sofrimento e da dor. Evidentemente, termos todas as nossas necessidades sempre supridas é precisamente o oposto do que o discípulo deve experimentar. Paulo mostra uma indiferença quanto às circunstâncias da própria vida, sentimento que era fruto de sua maturidade espiritual: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.

Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez. Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.11-13).

A questão levantada pelo apóstolo não é que veremos todas as nossas necessidades prontamente assistidas, mas que, fazendo de Jesus o Senhor de fato de nossas vidas, precisaremos cada vez de menos coisas para termos satisfação completa. O discipulado, presente na comunidade cristã, tem como objetivo satisfazer com uma só coisa: o senhorio de Cristo em sua vida.

3. O relativismo das marcas versus o senhorio de Cristo – Um bom profissional do marketing busca formar um tipo de pessoa que se identifica tanto com sua marca que passa a considerar algo inimaginável a possibilidade de viver sem ela. Em se tratando de valores, esse tipo de entusiasmo parece indicar uma superioridade das marcas na vida de alguém.

Entretanto, subjacente a esse fanatismo pelas marcas, está o relativismo inerente no consumismo. Uma marca de celular não é inerentemente melhor do que a concorrente, embora produtos do gênero precisem ter certa dose de competição técnica. Uma delas pode até fazer um melhor trabalho de capturar as mentes e os corações; todavia, dizer que determinado logo é melhor do que outro é tão ridículo quanto afirmar que os moradores de Boston são melhores do que os moradores de Chicago.

Melhores por quais padrões? Para ser honesto, as marcas comunicam coisas diferentes umas das outras. No mercado americano de automóveis, Mercedes representa luxo, enquanto Honda expressa confiança. Ambas, porém, fazem o que devem fazer em termos de qualidade.

Portanto, a superioridade de uma sobre a outra está única e exclusivamente na cabeça do consumidor.

O consumidor que compra nosso marketing fará de Jesus sua marca escolhida, e o zelo resultante dessa escolha parecerá fé apaixonada. Aparências nos desapontam. Uma fé genuinamente apaixonada está enraizada em quem Cristo de fato é. Um zelo pela marca, por sua vez, está centrado na própria pessoa, pois a superioridade de uma marca sobre a outra depende tão somente do entusiasmo do seu devoto.

O zelo existente mascara a arbitrariedade da escolha. Entretanto, a escolha por Cristo não é arbitrária. Se um consumidor descontente com uma marca de TV escolhe outra, a primeira perde e a segunda ganha. Mas se uma pessoa deixa de escolher a Cristo para servir a outros deuses – ou a deus algum –, Cristo não é nem um pouco diminuído.
Consumidores espirituais não têm porque achar que o cristianismo não é uma opção entre muitas. Entretanto, a santidade na vida de uma igreja é um grande testemunho do contrário.

A igreja revela a supremacia de Cristo em um mundo que nega seu poder quando ama o que não é amado, perdoa o imperdoável, promove reconciliações aparentemente impossíveis e faz a perseverança triunfar sobre as dificuldades.

4. Fragmentação versus unidade de Cristo – A chave para o sucesso no marketing é a segmentação: dividir determinada população em grupos identificáveis por suas preferências relacionadas ao consumo. Trata-se de uma análise demográfica. Um profissional do marketing pode olhar para as contas mensais de uma pessoa, ou apenas para o CEP de seu endereço e descobrir coisas importantes para acerca de seu perfil de consumo.

As segmentações nos chamados nichos de mercado permitem aos marqueteiros concentrar suas mensagens em públicos mais restritos, tornando-as mais eficazes. Isso tem permitido que o ser humano do século 21 com capacidade de consumo possa viver praticamente alocado dentro de suas preferências.

Vivemos em bairros residenciais com pessoas que se parecem conosco, vamos a igrejas cujos membros têm perfil social semelhante ao nosso, passeamos com companheiros que têm os mesmos gostos que nós. Tudo isso contribui para relutarmos contra a vida em contextos nos quais as pessoas não são como nós.

Isso, é claro, é um problema para a Igreja. A unidade cristã é um valor bíblico inegociável. Pense na oração de Jesus em João 17, na exortação de Paulo aos filipenses para que fossem um com a mente de Cristo, ou na metáfora da Igreja como o corpo de Cristo, com diferentes membros igualmente importantes em suas funções.

Como Paulo afirmou em Gálatas 3.28, a unidade de Cristo rompeu todas as principais diferenças da sociedade romana: de tribo, classe e gênero. Com efeito, nenhuma identidade importa tanto quanto a identidade cristã.

Precisamos, portanto, estar atentos para as infiltrações da segmentação do marketing nas nossas igrejas. Isso tem provocado duas inaceitáveis consequências: igrejas extremamente homogêneas representando tendências consumistas e, na outra ponta, pequenos grupos homogêneos dentro de grandes igrejas.

Ambas as tendências tendem a nos separar dos que nos parecem “diferentes” e a nos levar uma comunhão restrita por padrões sociais, culturais, etários ou até mesmo étnicos – ou seja, caímos no nicho eclesiástico. Certamente foi a isso que Paulo referiu-se como “conformação com este século”, citada em Romanos 12.2.

O consumismo veio para ficar. Hábitos como autocriação, descontentamento, relativismo e fragmentação se tornarão mais dominantes nos próximos anos. Essa é a forma que a economia global e as transações comerciais julgam ser interessante.

Não podemos derrotar nossa realidade; podemos, sim, viver de forma fiel em meio a esse contexto. Para isso, é fundamental nos lembrarmos da natureza da Igreja de Cristo. Em todas as épocas, cristãos têm lutado para defini-la; é uma tarefa difícil porque é a única instituição divina e humana ao mesmo tempo.

A Igreja é como uma família, um reino, uma organização social, uma reduto de vida, de companheirismo e – para os nossos dias – um mercado. O problema se instaura quando procuramos definir a Igreja como um todo a partir de apenas um de seus aspectos. Ou seja, tratando-a como um mercado que tem uma marca a ser vendida. Se tratarmos o Evangelho como um produto, não estaremos levando aqueles que não crêem a pensar na cruz como apenas mais um logo?

Nós também precisamos entender, porém, que, não importa o que façamos, o consumismo inevitavelmente estará presente na forma pela qual as pessoas veem a Igreja em nossa sociedade. Toda nossa comunicação da Palavra de Deus será encarada como um marketing; toda exposição dos conteúdos do Evangelho será tida como um produto.

E o evangelismo será vist como uma venda. Nada há que possamos fazer para mudar esse contexto. Há ainda mais razões para desafiarmos as expectativas. Consumidores espirituais virão às nossas igrejas como vão às vitrines das lojas nos shoppings, procurando um produto que combine com suas preferências.

Eles desejarão isso porque consumir é a única salvação que eles conhecem. Trarão todos os seus recursos e terão grande dificuldade em entender a graça de Deus, porque não conseguem conceber algo que não pode ser comprado.

Eles virão à nossa vitrine buscando o que querem, da mesma forma como fizeram aqueles que foram a Jesus, em seus dias, buscando comprar seus produtos – os milagres que operava. Naquela época, eles estavam procurando por um mestre, um homem louco, um profeta ou revolucionário, e – no fim – por um cadáver. Hoje, eles estão buscando uma marca espiritual.

Nos dias de Jesus na Terra, quem o procurou encontrou um Messias vivo e um Senhor. Eles encontraram o Deus pelo qual nem mesmo estavam procurando. A pergunta que nos cabe, hoje, é se aqueles que o buscam hoje haverão de achá-lo no que se chama de corpo de Cristo, chamado para transformar o mundo – e se, procurando algo novo para comprar, serão surpreendidos por Deus.


Tyler Wigg-Stevenson
é pastor batista e autor de Brand Jesus: Christianity in a Consumerist Age. Tradução: Daniel Leite Guanaes

Fonte: Cristianismo Hoje

Adoração como atuação

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A diferença entre o entendimento bíblico e pagão de adoração encontra-se na diferença entre um verbo e um substantivo.


O que é adoração? O termo inglês vem do anglo-saxão weorthscipe, que significa “honrar, “atribuir dignidade”. É interessante que, sob esse aspecto, o Livro da Oração Comum, 1662, inclui nos votos matrimoniais: “com meu corpo eu te louvo”. Isso é uma afirmação sucinta do entendimento bíblico sobre sexualidade.

A palavra hebraica usada no Antigo Testamento para adoração significa, reverência. Mantenha isso em mente. Para os Hebreus, adoração era um verbo, algo que você faz. A mesma idéia está por trás do tremo grego do Novo Testamento para adoração, que significa “servir”. Como antecipação do que eu estarei dizendo, eu sugiro isso a você: a diferença entre o entendimento bíblico e pagão de adoração encontra-se na diferença entre um verbo e um substantivo. Para o individuo da Bíblia, adoração é algo que você faz. Para o pagão, adoração é um estado de ser.

O que é, neste caso, que nós fazemos quando nós atribuímos dignidade a Deus, ou o reverenciamos, ou o servimos no Domingo de manhã? Eu acredito que nós nos entregamos a um ritual dramático. Como ritual, eu quero dizer que nós usamos algumas formas fixas de palavras, isto é, sermões, orações, hinos. Como ritual eu quero dizer que o contar da história é tecida através daqueles rituais: a história dos poderosos atos de salvação de Deus através de Jesus Cristo.

Deixa eu dar um exemplo do que eu quero dizer através da cultura popular. Quando nós adoramos a Deus, nós fazemos essencialmente a mesma coisa que eu fiz quando eu assisti na televisão, no mês passado, pela décima primeira vez, a repetição da grande vitória do USC contra o Notre Dame, em 1974. Para aqueles que não estão familiarizados com essa sagrada história, esse foi o jogo em que o USC estava perdendo por 17 pontos na metade do jogo. Anthony Davis do USC começou o segundo tempo a uma jarda da sua própria linha final e a 101 jardas do touchdown. Por todo o segundo tempo o USC dominou o Notre Dame, com as corridas de Davis e os passes de Pat Haden para J. K. McKay. Resultado final: USC 55, Notre Dame, 24.

“Mas”, você pode protestar, “você sabe tudo o que irá acontecer. Por quê você assistiu isso tantas vezes?” Minha resposta: o principal é exatamente isso. Eu assisti várias vezes porque eu sabia o que ia acontecer. Algumas idéias que eu tenho são confirmadas e reafirmadas. Mais uma vez, o bem triunfou sobre o mal, a luz sobre as trevas.

Você faz a mesma coisa ao assistir a seu programa de televisão favorito. Alguns valores e crenças que você serão dramatizados, em forma de história. Eles serão sobre a vida e sobre o que ela significa, seus problemas e suas soluções. Alguns analistas sociais chamam os programas de Tv populares, especialmente os intermináveis seriados, de ritual dramático. É por isso que eles, como meu jogo favorito, reafirmam o que acreditamos. Eles são como cultos de adoração. Para muitas pessoas eles são como cultos de adoração a partir do momento em que eles são semanais, às vezes diários, e confirmam e reafirmam o centro dos valores que nós mantemos em comum enquanto cidadãos americanos.

A Bíblia é cheia de rituais dramáticos. Apocalipse 5.9-10 é um bom exemplo. As miríades do céu estão reunidas em volta do trono de Deus. À sua direita está o Cordeiro, que foi considerado digno de tomar o rolo da mão direita de Deus e de abri-lo. O rolo é de imensa importância porque ele contém os decretos de Deus para o futuro do planeta Terra. A ocasião é de grande alegria para a congregação do céu, então eles iniciam um serviço de adoração ao Cordeiro cantando:

Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; E para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra. Ritual dramático: é isso o que nós estamos testificando nessa adoração celestial espetacular. A história da salvação é de alguma forma recontada e seu valor confirmado. Todos os adoradores oferecem graças e louvores.

Uma pergunta essencial pode ser feita aqui, a resposta na qual nos leva ao coração do acontece na verdadeira adoração cristã. Nesse ritual dramático quem é a platéia e quem é o artista? A resposta é que Deus é a platéia e a congregação o artista. Como Soren Kirkeegard disse, na adoração cristã Deus é a platéia, a congregação o artista, e o ministro, o coral, e outros líderes são os encenadores.

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Se essa verdade essencial entrasse na consciência dos cristãos, a adoração seria transformada. A maioria esmagadora das congregações cristãs tem a regra invertida. A congregação se considera a audiência, enquanto os incitadores e Deus são considerados, eu suspeito, os artistas. A congregação vai para ter uma “experiência de adoração”. Isso não é apenas idolatria no seu reverso da regra de adoração. A adoração se torna um substantivo, um estado de ser, uma experiência induzida por Deus, pelo coral, ou pelo pastor. Porém, biblicamente, adoração é um verbo, algo que a congregação ou os artistas fazem.

Existem no mínimo três implicações dessa compreensão da adoração como um ritual dramático. O primeiro tem haver com a história. Deus é o Deus da história: do passado, do presente e do futuro. O Cordeiro foi assassinado, nos libertou e nos fará reinar, é o que diz o hino da passagem de apocalipse.

A adoração cristã é essencialmente um ato de rememoração. É isso o que a Ceia do Senhor faz. Ela relembra a morte do Senhor, mesmo celebrando a presença da sua ressurreição e olhando para o seu retorno. Lá estão eles novamente: passado, presente, e futuro.

Uma das falácias e conceitos de nosso tempo é que Deus fez pouco ou nada desde a morte do último apóstolo até agora. Nos colocamos uma grande carga no Novo Testamento e na igreja do primeiro século,e em nós mesmos. Na minha igreja existem aqueles que querem cantar somente as novas músicas e aqueles que querem cantar somente as antigas. O engraçado disso tudo é que as “músicas antigas”, as mais velhas, datam do século dezenove.

O Deus do passado, do presente e do futuro a quem nós adoramos em um ritual dramático era tão ativo no quarto, décimo primeiro ou décimo sétimo séculos quanto o é agora. Nossas canções, orações, sermões e confissões, deveriam confirmar isso. Além de nos fazer pessoas mais bíblicas, isso nos daria uma perspectiva sobre nós mesmos e nos fazer recordar um pouco do nosso conceito.

A segunda implicação tem haver com a preparação. Porque nós somos os realizadores, nós devemos ir preparados para a adoração. Imagine sua decepção se você pagasse vinte dólares para assistir a sétima sinfonia de Beethoven e a orquestra chegasse atrasada na sala de concerto? E se o diretor chegasse diante da plateia e dissesse algo como: “Nossa! Nós tivemos um mês ocupado! Muitas viagens, várias gravações, e agora aqui nós estamos e não tivemos uma chance para ensaiar o concerto desta noite. Escute, eu tenho uma grande idéia. Todo o mundo aqui é um músico realizado. O que vocês dizem se nós tivermos uma sessão de jazz durante os próximos noventa minutos? Deixa fluir. Seja espontâneo!”

Você estaria irritado se a orquestra chegasse atrasada e se ela estivesse despreparada, porque você pagou pelo espetáculo. O que Deus pagou pelo nosso espetáculo? O sangue do seu próprio filho? O que isso significa na prática? Significa ter uma boa noite de sono no Sábado. Significar chagar na hora. Eu acredito que o atraso no culto de Domingo é uma questão teológica. Isso significa orar e estudar a Bíblia se preparando para o Domingo. Howard Rice disse que a reforma da adoração supõe que os indivíduos da congregação tenham gastado uma hora por dia em oração e leitura da palavra.

Tudo isso contradiz o que Tom Haward chama de o “mito da espontaneidade”. É um mito muito atraente. Isso diz que nós seriamos livres, diretos e espontâneos, se nós simplesmente pudéssemos desmantelar a tradição, estruturas e convenções. Infelizmente, isso contradiz tudo o mais que nós conhecemos dentro da experiência humana. Foi o trabalho árduo, a austeridade, e a disciplina que gerou os Diálogos de Platão, a Missa em Si menor e a Teoria da Relatividade. Deveria ser muito diferente em nossa relação com Deus? Da mesma maneira que poucas coisas de mera espontaneidade são valiosas, significativas e notáveis nas outras formas de esforço humano, assim é a adoração cristã. Eu acredito que Deus está, no mínimo, não impressionado com apenas adoradores espontâneos.

Uma boa metáfora para a verdadeira liberdade da adoração cristã disciplinada pode ser encontrada na arte do dançarino. Nada parece mais livre e espontâneo do que um grande dançarino atuando. Mas por baixo de toda aquela liberdade espontaneidade existem anos exercícios, repetição, suor, esforço e mais exercícios.

A adoração de Domingo será para o resto das nossas vidas o que a cultivação é para um jardim. Nós capinamos, podamos, jogamos água e nutrimos com a finalidade de deixar o jardim bonito. Não é espontâneo; os jardins são disciplinados.

A última implicação tem haver com o foco. E com isso eu fecho, porque ela resume todas as outras.

Cristo é o centro da adoração cristã, e não nós e nossa experiência. Nós não estamos lá para dar, mas para receber. O que nós deveríamos nos perguntar no caminho para casa no Domingo não é, “O que eu recebi?”, mas sim, “O que eu fiz?”

Quando todos os sermões forem pregados, os hinos cantados, todos os seminários de renovação de adoração conduzidos, e todas nossas inovações tiverem ido e vindo, isso é tudo aquilo que terá importado: que nós dissemos com nosso ser inteiro, “Digno é o Cordeiro que foi morto, de receber poder, riqueza, sabedoria, poder, honra, e glória e de ser bendito!

Ben Patterson

Fonte: Cristianismo Hoje

sábado, 25 de julho de 2009

Mensagem

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Uma igreja do tamanho do Brasil

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Às portas do seu centenário, a Assembleia de Deus está em festa. Maior denominação evangélica e segunda instituição religiosa do país em número de fiéis – atrás, apenas, da Igreja Católica Romana –, a Assembleia de Deus (AD) comemora em 2011 um século de existência, trajetória marcada pelo fogo pentecostal e pelo ardor missionário. Mais popular das confissões protestantes em território nacional, a AD é uma igreja com a cara do Brasil. Presente das grandes cidades aos vilarejos do interior, ela congrega gente de todo tipo, origem e classes sociais; ao mesmo tempo, mantém a ortodoxia doutrinária e a fidelidade às Escrituras que se tornaram sua marca desde que os fundadores, os missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, aportaram em Belém (PA). Daqueles tempos de pioneirismo e perseguição, ficou na alma dos assembleianos a urgência de anunciar o Reino de Deus. Há quase 100 anos, os crentes da denominação só têm colocado mais e mais pedrinhas em sua coroa – é assim que eles, carinhosamente, chamam as almas ganhas para Jesus.

A ocasião festiva já está sendo comemorada em diversos eventos e a agenda vai ficar cheia até 2011. A coordenação do programa do centenário está a cargo da Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil (CGADB), entidade que congrega mais de 100 mil igrejas e 35 mil pastores. O número exato de fiéis é impossível de mensurar. “Segundo o Censo de 1991, os assembleianos eram 2,4 milhões; já em 2000, 8,1 milhões de pessoas se declararam membros da AD”, lembra o pastor Silas Daniel, diretor de Jornalismo da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD). “Nove anos depois do último Censo, com base não apenas em projeções, mas em dados de crescimento que nos chegam de alguns ministérios regionais, chega-se a um número estimado de 15 milhões.”

“Sal e luz” – A verdadeira dimensão numérica da AD é menos importante do que seu legado. Ao longo do século 20, a denominação exerceu papel fundamental na evangelização do país. “Há décadas as Assembleias de Deus têm feito a diferença em uma sociedade que diariamente perde os referenciais de ética, integridade, vida espiritual e moral”, destaca o pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da CGADB. Em abril, ele foi reeleito para seu décimo mandato à frente da entidade numa participação recorde, tendo mais de 13 mil ministros eleitores, derrotando o pastor Samuel Câmara. A primeira vice-presidência ficou com o pastor e conferencista Silas Malafaia. “Deus nos chamou para ser sal e luz, e temos obedecido a esse chamado com poder e autoridade. O trabalho dos pioneiros continua em nossos dias, e o Senhor nos proporcionou os meios para fazê-lo da melhor forma possível.”

Sobre as comemorações, Wellington lembra que a história da AD é caracterizada pelo mover divino. “Cem anos não são cem dias. Contamos tempos trabalhosos, de perseguição, de incompreensão contra a nossa fé, e hoje podemos colher os frutos de um evangelismo pacífico e respeitoso em nossa nação. Deus se fez presente conosco, confirmando sua Palavra e acrescentando à igreja os que vão sendo salvos”. A programação começou oficialmente durante a Assembleia Extraordinária da CGADB em Porto Alegre (RS), ano passado. O marco inaugural foi um cerimonial no Hotel Sheraton, na capital gaúcha, com a presença de líderes de quase todas as convenções regionais e de órgãos ligados à igreja. Ali, toda a programação de 2008 a 2011 foi exibida em vídeo. Na ocasião, foi apresentada também a marca do centenário, que representa o número “100” estilizado com uma chama – lembrando o pentecostalismo – e duas alianças entrelaçadas.

Um dos destaques das comemorações é a série de conferências pentecostais que serão promovidas até 2011, uma em cada região do país. “Serão grandes eventos evangelísticos e de renovação espiritual”, descreve José Wellington. Mas o que está motivando os assembleianos do Brasil é mesmo comemorar os cem anos bem ao seu estilo – ou seja, pregando a Palavra a toda criatura. Uma das metas até 2011 é que cada membro leve ao menos uma pessoa à conversão ao Evangelho. Outro desafio é abrir uma congregação da AD em cada município do país. “Queremos que todas as cidades tenham uma igreja da Assembleia de Deus pregando a salvação em Jesus Cristo”, anuncia o dirigente.

A primeira conferência foi realizada no Centro-Oeste, em outubro de 2008, no Grande Templo da AD em Cuiabá (MT). A segunda será na Região Sul, em Curitiba, ainda este ano. Em seguida, será a vez do Nordeste, na cidade de Recife (PE), em junho de 2010; depois, será a vez da Região Norte, com o evento em Belém do Pará, já em junho de 2011, na semana de aniversário de cem anos da denominação no Brasil. Finalmente, em outubro de 2011, será realizada a última conferência, desta vez no Sudeste, na cidade de São Paulo, ocasião em que será inaugurado o novo templo-central da Assembleia de Deus do Belenzinho (SP).

Autor: Carlos Fernandes


Fonte: Cristianismo Hoje

A bênção de ser ouvido

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Um a um, oito homens chegam à sala de aula no andar de cima da igreja. Ali, todas as noites de quinta-feira, eles participam de uma reunião. O ambiente é pesado, e não poderia ser de outra maneira. “Meu nome é Kevin. Sou um viciado por sexo em processo de recuperação”, inicia um dos participantes sentados ao redor da mesa. Em seguida, cada homem fala por cerca de cinco minutos sobre como tem enfrentado as tentações na área sexual. O que os leva a abrir o coração acerca de uma área tão delicada de suas vidas não são aquelas situações comuns enfrentadas por muitos crentes, como os apelos eróticos da mídia ou um eventual assédio no ambiente de trabalho. O problema é muito mais grave – todos eles são atormentados por compulsão sexual. Tornaram-se vítimas de um desejo lascivo insaciável que os leva a trair suas esposas e até a se envolver com prostitutas.
O pequeno grupo local faz parte de uma crescente rede de homens que, ao redor dos Estados Unidos, buscam ajuda através do ministério chamado Operation Integrity (Operação Integridade). Ninguém está autorizado a dar conselhos, criticar, defender ou desculpar o comportamento de um companheiro durante estes encontros semanais, que em média duram 90 minutos. O trabalho é baseado na fé e no estabelecimento de etapas de recuperação. É bom que se diga que ninguém ali é acusado de crimes como pedofilia ou atentado ao pudor. Trata-se de homens respeitáveis, pais de família exemplares e profissionais zelosos. Gente envolvida com o Evangelho, que ocupa os bancos das igrejas aos domingos e até exerce cargos eclesiásticos. Mas poucos têm a coragem de confessar as taras e os hábitos sexuais destrutivos aos seus pastores, mulheres e filhos.
As reuniões da Operação Integridade (OI) como esta, realizada na Coast Hills Community Church, uma grande igreja não-denominacional em Aliso Viejo, no sul da Califórnia, são na verdade a última esperança para muitos deles. Após compartilhar suas histórias, os participantes do movimento se revezam para ler parágrafros do livro When Lost Men Come Home” (“Quando homens perdidos voltam para casa”), escrito pelo fundador do ministério, David Zailer. A partir daí, tem início uma conversa franca. Os depoimentos, em sua maioria, mostram que os envolvidos apresentaram progressos desde que começaram a freqüentar o grupo, mas nenhum ainda chegou àquele almejado estágio da libertação do problema. Fé e força de vontade são fundamentais no processo, assim como a solidariedade. Ao fim da tarde, os participantes trocam abraços e palavras de incentivo. “Estamos todos nesta trincheira juntos” diz Sonny, um dos participantes, após a reunião. “Eu me fortaleço através destes homens”.

“Homens desesperados” – Zailer, o fundador da Operação Integridade, convidou Christianity Today a participar de uma das sessões, que são confidenciais. Por isso, os outros nomes citados nesta reportagem são fictícios. Ele é claro ao dizer que os encontros de nada adiantarão se não houver total envolvimento. “Precisamos ser o mais honestos possível. Um homem pode aparecer por sentir-se culpado, ou porque a mulher o obrigou a vir ou ainda por ter boas intenções. Mas se ele não estiver quebrantado, não ficará. Nosso programa é para homens desesperados”, explica. Embora não esteja classificada no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais, a chamada adição sexual é amplamente reconhecida como um problema. Especialistas dizem que este tipo de distúrbio é definido pelo comportamento obsessivo, independente de suas conseqüências negativas para a própria pessoa ou suas relações. Na verdade, o viciado em sexo típico é aquele indivíduo que já tentou parar mas não obteve sucesso – e, no caso dos cristãos, tal comportamento costuma trazer profundo sentimento de culpa.
“Acontece que o viciado em sexo não odeia a si mesmo ou a seu pecado o suficiente para abandonar o vício”, continua Zailer, que fundou a Operação Integridade em 2001. Evidentemente, fala por experiência própria. Criado no Evangelho, ele foi abusado sexualmente aos oito anos de idade por um amigo de sua família, membro da mesma igreja. Na adolescência, tornou-se dependente de álcool, cocaína e crack. Mais tarde, passou cinco anos atuando em filmes pornográficos, valendo-se de sua imagem atraente e da boa compleição física. Como pena alternativa a uma condenação de oito anos de prisão por envolvimento com drogas, Zailer passou 18 meses em um programa de tratamento. Enquanto tentava parar com seu vício sexual, ele tornou-se mais obsessivo quanto ao sexo: “Eu fiz diversos compromissos de parar”, revela. “Mas não houve quantidade suficiente de determinação pessoal ou atividade religiosa que me protegesse”.
Zailer encontrou poucos no círculo da igreja que estivessem dispostos a conversar honestamente sobre pecados sexuais. Então, elaborou doze passos que, no seu entender, seriam capazes de libertar gente como ele. Este processo está na base do trabalho do ministério. Todos os envolvidos mantêm uma lista telefônica e desenvolvem suas próprias amizades dentro do grupo. O homem que precisa de ajuda começa a ter contato com um mentor, muitas vezes diariamente. A rotina de Zailer é pesada. Ele trabalha como construtor de piscinas e recebe, diariamente, dezenas de ligações de pessoas que buscam encorajamento. Algumas vezes, a conversa é rápida, apenas para saber se vai tudo bem. Em outras ocasiões, contudo, a confissão de um drama e o posterior aconselhamento podem levar horas.

Império dos sentidos – Autoridade amplamente reconhecida quando o assunto é a ajuda à compulsivos sexuais, Patrick Carnes, autor e diretor executivo do Gentle Path Program, estima que 8% dos homens adultos e 3% das mulheres adultas tornam-se viciados em sexo em algum momento de suas vidas – o que equivale a dizer que, apenas nos Estados Unidos, cerca de 30 milhões de homens apresentam algum distúrbio sério nesta área. O obsessivo torna-se depedente da resposta neuroquímica do corpo durante as mais variadas práticas sexuais, o que inclui masturbação, parceiros múltiplos, exibicionismo, voyeurismo, pornografia na internet e até crimes como abuso sexual e estupro. A busca contínua por novas sensações torna a vítima um escravo do sexo.

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Conselheiros cristãos e psicólogos dizem que a extensão do problema da adição sexual é a escassez de programas de tratamento, o que faz com que milhões de freqüentadores de igrejas, tanto homens como mulheres, continuem presos ao problema por décadas. Por outro lado, a própria cultura de Igreja, que proporciona poucas oportunidades para tratar o pecado sexual, inibe a maioria das vítimas de buscar solução ou compartilhar seu drama com os irmãos. Geralmente, o compulsivo sexual não busca ajuda até que uma crise ocorra – por exemplo, quando a esposa descobre uma agenda repleta de telefones de mulheres ou é demitido do emprego por acessar sites pornográficos na internet. Há quem tenha sido pego no flagra – por exemplo, navegando por sites pornô – pela família no domingo pela manhã, antes de sair para a igreja.
Além da Operação Integridade, diversas organizações cristãs voltadas para homens sexualmente compulsivos começam a emergir. Já existem mais de 60 grupos do gênero nos EUA, que se dedicam especificamente a ajudar quem sofre de adição sexual. Os nomes das instituições sintetizam a natureza do trabalho: Pure Warriors (Guerreiros Puros), Pure Desire (Desejo de Pureza), Pure Life (Vida Pura), Samson Society (Sociedade Sansão). Seus métodos diferem, mas todos estes programas partilham a crença de que um viciado em sexo é impotente para mudar seu comportamento sozinho.
“Satanás adora quando pensamos que podemos derrotar este problema sozinhos” diz Mark R. Laaser, autor do livro Healing the Wounds of Sexual Addiction (“Curando as feridas da adição sexual”). Para Nate Larkin, fundador da Samson Society, um processo de adição pode começar com a insatisfação conjugal. Mas afinal, o vício sexual é mesmo um distúrbio ou simplesmente um tipo de comportamento imoral? Bob Hugs, psicólogo clínico de Laguna Hills, Califórnia, é porta-voz de muitos terapeutas cristãos que enxergam a adição sexual tanto como uma escolha pecaminosa quanto um distúrbio biológico. O começo pode ser a repetição de um comportamento sexual. “Essa adição pode se apropriar do indivíduo e roubar sua vontade própria”, diz Hughes, que ajudou Zailer em sua recuperação e já encaminhou trinta de seus pacientes às reuniões da OI.
Douglas Weiss, 45 anos, diretor executivo do Centro de Aconselhamento Heart to Heart, em Colorado Springs, diz que o cérebro de um viciado não discerne se seu comportamento sexual é moral ou imoral. Ex-compulsivo sexual e sóbrio há 20 anos, Weiss conduz diariamente seminários intensivos para que os viciados determinem o perfil de sua adição – se a dinâmica é primeiramente biológica, psicológica ou espiritual, se é baseada em traumas ou relacionadas à repulsa sexual, ou uma combinação de fatores.

Desafio à Igreja – Embora só tenha sido identificada como distúrbio comportamental nas duas últimas décadas, adição sexual já apresenta uma preocupante evolução. Uma delas diz respeito ao perfil das vítimas. Até recentemente, aqueles que sofreram abuso sexual na infância possuíam maior probabilidade de se tornarem compulsivos, numa espécie de tentativa de mudar o resultado do que lhes aconteceu através de uma reprodução de comportamento. Agora, uma das preocupações dos ministérios especializados é a redução na média de idade dos compulsivos. Muitos adquirem o vício já na adolescência.
Ao mesmo tempo, será que a Igreja pode ser verdadeiramente eficaz se não é um lugar seguro para que um homem compartilhe suas lutas? A política da tolerância zero adotada por muitas denominações evangélicas – que consiste, em muitos casos, na proibição peremptória à abordagem do assunto – só dificulta as coisas. “A Igreja terá que decidir se lutará para ser a noiva pura de Cristo” diz Stuart Vogelman, diretor executivo do Pure Warrior Ministries (Ministério Guerreiros Puros) de Valleyford, Washington. “O silêncio é o maior inimigo da saúde sexual. Provavelmente, esta será a batalha mais difícil que a igreja já enfrentou e a maioria das comunidades cristãs não está equipada para isso”, alerta.
“Existem homens feridos em todos os países, que tentam curar suas feridas através do comportamento sexual compulsivo” diz Vogelman, que passou 23 anos como um consultor internacional de negócios na área da saúde. “Mas esses mesmos homens envenenados pelo diabo estão saindo do poço para ministrar a outros homens enquanto se recuperam”, sinaliza. “Essa nova epidemia dá à Igreja uma oportunidade incomparável”, ele diz. “O inimigo tem agido. Homens desesperados farão o que for preciso para obter ajuda”.

Compulsão é patologia

No Brasil, ainda não existem entidades cristãs organizadas para prestar apoio espiritual a vítimas de compulsão sexual. A lacuna costuma ser preenchida por ministérios que atuam na área de família, nos quais o trabalho de aconselhamento nem sempre aborda o tema especificamente. Viciados em sexo têm à disposição serviços de natureza secular, como o desenvolvido pelo Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad), mantido pela Universidade Federal de São Paulo. A iniciativa surgiu em 1995 como grupo de apoio a compulsivos sexuais, e hoje atende gratuitamente cerca de 50 pessoas.
Quatorze destes pacientes estão submetendo-se a um estudo que visa avaliar a eficácia do uso de antidepressivos no tratamento da patologia. “Nós queremos dar fundamentação científica para os resultados”, diz o coordenador do Ambulatório de Tratamento do Sexo Patológico do Proad, Aderbal Vieira Jr. Segundo ele, as causas da compulsão são variáveis, podendo ser comportamentais ou neurológicas. “O sexo compulsivo vem sendo estudado há 15 anos, o que para a medicina é muito pouco”, admite o especialista.

Texto: John W. Kennedy

(Tradução: Karen Bomilcar)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Torta salgada da mamãe

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Ingredientes:
  • 8 tomates sem pele
  • 1 cebola grande ralada
  • 1 maço de cheiro verde picadinho
  • 2 ovos inteiros
  • 1 colher (sopa) de fermento em pó royal
  • 1/2 xícara de margarina derretida
  • 1/2 xícara de óleo
  • 12 colheres de farinha de trigo
  • 1 pacote de queijo ralado
  • 1 vidro de maionese
  • Sal a gosto
Modo de Preparo:
  1. Pique bem os tomates e junte a cebola picadinha e o cheiro verde
  2. Bata os ovos com o óleo e a margarina
  3. Misture tudo com a farinha e o sal
  4. Coloque por último o fermento
  5. Unte um pirex e polvilhe queijo ralado
  6. Espalhe a massa
  7. Leve ao forno quente
  8. Deixe esfriar e cubra com a maionese

Muito bom para o lanche da criançada,mas eu não coloco muita maionese não, vai do gosto de cada pessoa.

Site: Tudo Gostoso
 

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